Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

ALÉM GUADIANA

Associação Além Guadiana (língua e cultura portuguesas em Olivença): Antigo Terreiro de Santo António, 13. E-06100 OLIVENÇA (Badajoz) / alemguadiana@hotmail.com / alemguadiana.com

ALÉM GUADIANA

Associação Além Guadiana (língua e cultura portuguesas em Olivença): Antigo Terreiro de Santo António, 13. E-06100 OLIVENÇA (Badajoz) / alemguadiana@hotmail.com / alemguadiana.com

Contadôri

Flag Counter

O PORTUGUÊS OLIVENTINO NÃ É UM CHAPURRÊO!

AG, 10.08.08

Estamos cansados de ouvir que o nosso português nã é português, mas um "chapurrêo". Se nã é português, será francês, será chinês, será japonês, será coreano?

Mapa de Lindley Cintra, muito conhecido, onde está incluído o português de Espanha: fala, oliventino, galego (embora com medo), etc.

Fonte: http://o-ceu-sobre-lisboa.blogspot.com/2004/04/este-mapa-s.html

 

 

ISTO É DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DE MANUEL SÁNCHEZ. Se houvêri críticas, acêto-as. A ASSOCIAÇÃ ALÉM GUADIANA NADA A VÊRI! Isto é um blogue, pá, e não a página uébi!

 

1. Língua, dialecto, chapurrêos e outras coisas.

Dizia Ferdinand de Saussure: “Las lenguas no tienen límites naturales (título de parágrafo). Es difícil decir en qué consiste la diferencia entre una lengua y un dialecto. A veces un dialecto lleva el nombre de lengua porque ha producido una literatura; es el caso del portugués y del holandés”[1]. O linguista Manuel Alvar tem um artigo célebre[2] onde nos ilustra sobre o que são os dialectos. Mas o melhôri dele é que acabamos sabendo uma coisa que nos pode desiludir e também iludir. O quê? Que qualquêri língua pode ser considerada dialecto e que qualquer dialecto pode ser considerado língua. Isto é, que nã há um critério linguístico pra os diferenciári! Aqui também insiste muito o professor Juan Carlos Moreno Cabrera, e tem razão: quase sempre os critérios são políticos (demasiado arbitrários atã). Portanto, onde estamos? Voltemos pra trás. Língua e dialecto. Há quem diga que pra saber se uma fala é língua ou dialecto tem que ser confrontada com outra e logo se vê. Por exemplo, se um argentino fala espanhol ou castelhano com um mexicano, e se entendem, quer dizer que os dois falam a mesma língua. Prémio! Os dois falam espanhol. Pois claro! Pra isso tanta cerimónia, compadre? Que parvoèrada, nã? Nã!, porque, e se quem fala é um galego de Ponte Vedra com um português de Viseu (ou de Almeirim, ou do Alandroáli, ou de Alcoutim)? Claro, é que o galego e o português são a mesma língua: esses falam galegoportuguês ou portugalego! Grandes vultos da linguística já desapar’cidos (Ferdinand de Saussure, Joan Coromines, Manuel Rodrigues Lapa, Ricardo Carballo/Carvalho Calero...) pensavam que o galego e o português (geograficamente e sincronicamente) eram dois dialectos duma mesma língua. É claro que, diacronicamente, o português é um dialecto do galego, que é um dialecto do latim hispânico. Mas aqui tratamos agora dos dialectos diatópicos (geográficos) de hoje. Mas, compadre, e se eu falo catalão com alguém que fala aragonês e nos entendemos, cada um na sua língua? Ah!, atã isso quer dizer que sã dois dialectos da mesma língua! E se o aragonês fala com um castelhano? E o castelhano com um asturiano? E o asturiano com um galego? Ou galega, que todos sã machos, compadre! Lêam outra vez a nota 1.

 

2. O galego, o português, o galegoportuguês...

Quando se formaram as línguas românicas da península Ibérica, fizeram-no a partir do latim hispânico. O catalão talvez a partir do latim gálico, mas disso nã vamos discutir aqui, compadre (ou comadre). Temos, do oeste ao leste, galego, asturleonês, castelhano, navarr(in)oriojano, aragonês e catalão. GALEGO: expandiu-se pra o súli: temos o galegoportuguês. ASTURLEONÊS: expandiu-se pra o súli, e temos agora o asturiano (nas Astúrias), o leonês (no antigo reino de Leão), o mirandês (na Terra de Miranda, onde é língua oficiáli) e o estremenho3 em Cáceres; portanto, o asturleonesmirandesestremenho; podem ser considerados uma língua com quatro dialectos ou quatro línguas com a mesma origem. CASTELHANO e NAVARR(IN)ORIOJANO: temos o espanhóli ou castelhano. ARAGONÊS: ficou no Norte de Aragã (a não confundir com o espanhol de Aragã). CATALÃO: expandiu-se pra o súli: temos o catalão, também chamado valenciano e doutras manêras.

 

3. O português de Espanha.

O português de Espanha é falado:

a) Na Galiza, nas Astúrias (entre os rios Eo e Návia) e no Berço (Leã), onde se chama galego.

b) Em Hermisende/Ermisende/Ermesende (Samora) e Alamedilla (Salamanca).

c) Na Estremadura: nos "Três Lugares” (em Cáceres): o lagarteiro das Elhas, o manhego de São Martim de Trevelho e o valverdeiro de Valverde do Fresno (ou del Fresno); em Cedillo, em Ferreira (ou Herrera) de Alcântara e em Valência de Alcântara (também Cáceres) e na Codosera, Olivença e Táliga (Badajoz).

 

4. O português alentejano oliventino.

O português oliventino é alentejano. Ninguém duvida isso. Mas porque será que alguns dizem que é um “chapurrêo4”? Crêo que é por medo. Por medo de que, compadre? Alguns poderosos inventaram isso por medo de que os oliventinos pensem que falam português e que são portugueses. Ah!, claro, compadre! Quer dizer que os galegos são portugueses? Nã, compadre, os galegos sã espanhóis e bem espanhóis! Por isso inventaram uma ortografia completamente incoerente, espanhola, pra a língua galega (ou portuguesa, ou galegoportuguesa) da Galiza. Ah! E por isso dizem que nos Três Lugares falam galego (no sentido desse galego ou xalexoespañol inventado), pra que nã sejam amigos dos portugueses. Claro, claro. É pena mas é assim. Atã o nosso português? O português nosso, o de Olivença, é alentejano. O português alentejano é um dialecto bem diferenciado dentro de Portugal, e faz parte, claro, da língua portuguesa de Portugal ou europêa. É língua? É. O português alentejano oliventino diferencia-se porque tem superstrato espanhóli. E isso que é, compadri?! Quer dizer que o português era a língua dos oliventinos e por cima foi posto o espanhóli; isto é, que é um português alentejano com influência posterior do espanhóli. E que fazemos com o espanhol oliventino? O mesmo podemos dizer do espanhol oliventino: espanhol estremenho com substrato português. Outro palavro? Quer dizer que o espanhol estremenho oliventino tem influência do português, mas não por cima: por baixo. O espanhol é como um cobertóri e o português o lençóli. Pra efêtos práticos, podemos dizer que o português e o espanhol são as línguas de Olivença, que o português alentejano e o espanhol estremenho são os dialectos e que o português alentejano oliventino e o espanhol estremenho oliventino são os subdialectos. Nada de chapurrêos. Porque depois, quando os poderosos inventam isso dum “achapurrado p’aí” muitas pessoas do povo pensam que é verdade. E as mentiras, repetidas muitas vezes, parecem verdade, sem o sêri.

 

5. O portunhóli e o chapurrêo.

Que será o portunhóli? É uma língua "sabíri" ou "pidgim". O portunhóli é o que falam entre si duas (ou mais) pessoas onde uma é lusófona e a outra hispanofalante. Quer dizêr, os portugueses tentam falar espanhóli e os espanhóis português. E falam algo chamado portunhóli, que é o produto dessas tentativas. Se o portunhóli é qu’rido por eles, atã chega a sêri língua. Se eles nã querem mais o portunhóli, mas tentam aprender a língua do vizinho ou o vizinho a deles, atão o portunhóli morre, acaba, e nã há mais nada que dizêri.

 

E o chapurrêo? O chapurrêo é por exemplo o português falado por José Antonio Camacho, mas o homem, quando estava no Benfica, tentava falar cada vez mais português e menos espanhóli... e ia-o conseguindo, benté que saiu do clube. Chapurrêo é o que ê tento falar quando me encontro com romenos. Chapurrêo é um “quiero y no puedo”. Mas o nosso português, compadre, nem é portunhol nem é chapurrêo.



[i] In Ferdinand de SAUSSURE, Curso de lingüística general (1919), trad. Amado Alonso, Madrid 1987. Refere-se ao galegoportuguês (com o sê dialecto português) e ao neerlandês (com o sê dialecto holandês). Este livro devia mas é ser obrigatório pra todos os estudantes de filologia.

[ii] Manuel ALVAR, “Lengua, dialecto y otras cuestiones conexas”, in Lingüística Española Actual 1 (1979), pp. 5-30.

3 Atençã, que uma coisa é o espanhol das Asturias e outra o asturiano, uma o espanhol de Leão e outra o leonês, uma o português de Miranda e outra o mirandês, e finalmente uma o espanhol da Estremadura e outra o estremenho.

4 Essa palavrinha aparece noutros lugares da península Ibérica. Onde se fala uma língua que não concorda com a frontêra ou com o limite político, já lá vai a palavrinha. Aparece em lugares de Aragão onde se fala catalão, por exemplo.

 

2 comentários

  • Imagem de perfil

    AG 07.06.2016

    "Miguel de Cervantes llamó a la lengua portuguesa la lengua dulce" em espanhol. "Miguel de Cervantes chamou à língua portuguesa a língua doce" em português (oliventino e não oliventino).
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.