Ecos depois das Lusofonias
Mais de 70 placas com os nomes das ruas em português foram recuperadas na cidade de Olivença (Espanha) com o objectivo de dar a conhecer a história e a cultura portuguesa aos habitantes daquela cidade fronteiriça. Sociedade
Portugal "reconquista" ruas em Olivença
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"Este passo mostra a união que existe entre os dois países ", disse Manuel Rodríguez, presidente do Ayuntamiento de Olivenza. A iniciativa foi um dos pontos alto da primeira edição do certame "Lusofonias", que decorre durante o dia naquela cidade espanhola e que conta com a organização da associação "Além Guadiana". A disciplina de português nas escolas da região de Olivença já conta com uma forte adesão de alunos, de várias faixas etárias, revelou Maria Santos, docente em dois estabelecimentos de ensino da Estremadura espanhola. "Os espanhóis estão cada vez mais interessados em aprender português. É uma disciplina que desperta cada vez mais o seu interesse", disse esta professora portuguesa. Extremadura Este año se cumplen 25 años desde que España firmó el Tratado de Adhesión a la Comunidad Económica Europea (CEE). Un aniversario que el Presidente de la Junta de Extremadura, Guillermo Fernández Vara, ha tenido hoy muy presente durante su estancia en Olivenza. En la localidad extremeña ha participado en la inauguración del encuentro transfronterizo entre España y Portugal, ‘Lusofonías. Allí ha destacado la importancia para Extremadura de pertenecer a la Unión.
Fernández Vara subrayaba que espera que los próximos 25 años de España en la Unión Europea (UE) sean aún mejores. "No sabría que decir que nos hubiese pasado en la actual crisis económica, ni cómo hubiésemos respondido a ella, si no hubiéramos estado en Europa y no nos hubiésemos beneficiado de su fortaleza o de su moneda única", aseveró el Presidente ante las preguntas de los periodistas.
Indicaba el Jefe del Ejecutivo que gracias a la adhesión a la UE Extremadura ha experimentado un gran cambio en el último cuarto de siglo. No sólo en infraestructuras, explicaba, también en avances en otros ámbitos como el de la cultura, la salud o el conocimiento.
"Si alguien quiere ver lo que para España representó entrar en Europa, que venga a Extremadura y lo compruebe", concluyó Fernández Vara. El Presidente de la Junta estará esta tarde también en Madrid en los actos conmemorativos de los 25 años de la firma del Tratado de Adhesión de España a la CEE.
17 de junho de 2010
AS "LUSOFONIAS" DESPERTARAM OLIVENÇA
No passado Sábado, 12 de Junho, Olivença despertou com a primeira edição das "Lusofonias", um espaço cultural dedicado ao Mundo Lusófono, no âmbito da herança cultural e linguística portuguesa, organizada pela Associação Cultural "Além Guadiana". Logo de manhã, com a presença dos Presidentes das Câmaras de Olivença e de Táliga, da Senhora Deputada de Cultura, do Presidente da Junta da Extremadura e de representantes de diversas instituições locais, foi descoberta uma das placas dos antigos nomes das ruas recentemente recuperados, a Praça de Espanha, o antigo "Terreiro do Chão Salgado".
António Marques
2 de julho de 2010
CULTURA
«"Além Guadiana", associação oliventina que, não obstante a sua ainda curta existência, tanto tem feito pela cultura portuguesa em Olivença, levou a cabo mais uma realização em prol da Língua Portuguesa, no passado dia 12 de Junho de 2010. Tratou-se da primeira edição das "Lusofonias", dedicadas ao mundo lusófono».
(fotografias: espectáculo de teatro em Olivença, com muita assistência, e leitura de Poesia em Português [surge o Eduardo Naharro Macías-Machado])
"LUSOFONIAS"
CULTURA PORTUGUESA EM OLIVENÇA
A. Martins Quaresma
"Além Guadiana", associação oliventina que, não obstante a sua ainda curta existência, tanto tem feito pela cultura portuguesa em Olivença, levou a cabo mais uma realização em prol da Língua Portuguesa, no passado dia 12 de Junho de 2010. Tratou-se da primeira edição das "Lusofonias", dedicadas ao mundo lusófono. Vários eventos foram-se sucedendo ao longo do dia. O acto inaugural incluía o descerramento de uma placa com o antigo nome português da "Plaza de España", que agora ostenta também o nome "Terreiro do Chão Salgado", acto que está incluído no projecto de recuperação dos antigos nomes das ruas. A parte mais emotiva do programa aconteceu com a Leitura Pública em Português, em que crianças, jovens e adultos leram publicamente obras de autores portugueses, bem como quadras populares oliventinas e autores oliventinos de língua portuguesa, como Ventura Ledesma Abrantes e Caetano José da Silva Souto-Maior, este um poeta cómico e erótico, de saboroso verbo. Ainda durante a manhã, o ambiente festivo foi dado pelos Gigabombos do Imaginário que desfilaram pelas ruas, enquanto o folclore esteve a cargo de "Los Chaparritos de La Encina" e das Cantadeiras da Granja. À tarde, destaque paro o angolano conta-contos "Estória da Galinha e do Ovo", assim como para a entoação de canções em Português pelos alunos da Escola Francisco Ortiz. Paralelamente e ao longo de todo o dia, permaneceu aberta uma zona expositiva com numerosos mostruários de artesanato, produtos gastronómicos e turismo de Portugal. O lugar convertue-se num agradável espaço onde se pôde fruir de actividades de teatro, animação de rua, literatura, cinema, música, gastronomia e artesanato. "Lusofonias" teve o apoio do Ayuntamiento de Olivença e contou com a presença do Presidente da Junta da Extremadura o oliventino Guillermo Fernández Vara. Recorde-se que "Além Guadiana" é uma associação cultural criada em 2008, com o fim de recuperar e fomentar a cultura portuguesa de Olivença, terra cujas raízes lusas lhe conferem particular personalidade. Alguns dos seus sócios desenvolvem, inclusive pessoalmente, actividade cultural em diversos campos artísticos. Ainda há pouco, um deles, José António González Carrillo, publicou "La herencia portuguesa en las cofradías de Olivenza". A propósito, num ano em que, em Portugal, se comemora o centenário da instauração da República e se fala, nomeadamente, em valores tão caros ao regime republicano como a instrução e a cultura, parece-me adequado olhar-se atentamente para o que se está a fazer em Olivença em favor da Língua Portuguesa.
(Estremoz, 1 de julho de2010)
ENTREVISTA SOBRE OLIVENÇA
Carlos Luna, um dos mais acérrimos defensores da causa oliventiva “Sendo a sua família natural de Estremoz, nasceu em Lisboa "de forma perfeitamente acidental", como fez questão de referir. Licenciado em História, Carlos Luna é um entusiasta de grandes causas, "pelo menos na minha perspectiva", como sublinha. Professor há mais de três décadas, este estremocense de alma e coração, tem do outro lado da fronteira, mas desejando voltar a vê-la do lado de cá, uma causa pela qual luta há vários anos: Olivença»
B.I.
Nome completo: Carlos Eduardo da Cruz Luna
Data de Nascimento: 16 Março 2010
Naturalidade: Lisboa (por acaso)
Estado Civil: Casado
Profissão: Professor de História
Signo: Peixes //Macaco //não acredito em signos
Hobbies: História. Política, História e Cultura Portuguesa em Geral e em particular em Olivença
Gosto de…: Música, Literatura, História... e da minha mulher e dos meus filhos... sem esquecer a minha mãe. E gosto da minha profissão
Não gosto de…: Política como puro jogo de interesses submetida a pressões económicas ou economicistas (mas gosto da política enquanto acto nobre e realizada por ideais)
1- Sintetize, para que os nossos leitores percebam, qual é o problema de Olivença relativamente a Portugal e Espanha? R: O problema de Olivença não nasce no início da História de Portugal. Olivença fez parte do Território Português desde a definição de fronteiras entre Portugal e Castela-Leão, pelo Tratado de Alcañices de 1297, que deriniu a mais velha fronteira da Europa. Mesmo entre 1580 e 1640, Olivença era parte do Reino de Portugal. Em 1801, A Espanha, aliada da França, declarou guerra a Portugal. Olivença caiu em 20 de Maio de 1801. A própria Espanha anulou o Tratado de cedência de Junho de 1801, ao invadir Portugal, com a França, em 1807. Em Congressos europeus, em 1814 e 1815 (Paris e Viena), Portugal conseguiu o reconhecimento da nulidade da cedência. A Espanha assinou os acordos em 1817. Seguiram-se discussões várias, em que a Espanha argumentou sobre a situação na América Latina, concretamente no Uruguay. Nem Portugal nem as Potências europeias aceitaram tal argumentação. De qualquer forma, a América Latina tornou-se independente, e em 1822 deixou de haver qualquer problema luso-espanhol no outro lado do Atlântico. Portugal nunca reconheceu a ocupação espanhola sobre Olivença, o que se reflecte nos mapas oficiais, e, por exemplo, nos direitos sobre as águas do Alqueva (Tratado Luso-espanhol de 1968, ainda em vigor), ou no estipulado no Dicionário Jurídico da Administração Pública em vigor (de 1999). Olivença, que era uma vila maior que Estremoz em 1801, foi perdendo importância e população (muita veio para Elvas e Estremoz no século XIX). Hoje tem cerca de 11 000 habitantes, contra cerca de 15 000 de Estremoz. Esta situação mantém-se por resolver, num relativo silêncio, portanto, há um pouco mais de 200 anos.
2- Sinceramente acha que há condições para que Portugal e Espanha alterem as fronteiras? R: Não se trata de mudar fronteiras entre Portugal e Espanha, uma vez que ela não existe no troço do Guadiana entre as Ribeiras de Olivença e Alconchel ou de Táliga. Basta ler as placas, em Elvas, que indicam o caminho para Olivença (nenhuma usa a grafia "Olivenza", e muito menos é acompanhada da designação complementar "Espanha"). Trata-se de colocar a fronteira onde ela deve legalmente estar. Numa Europa dita "sem fronteiras", não se vê como isto poderá constituir um grande problema. Quero DESTACAR, todavia, a resistência cultural em Olivença. A portugalidade não morreu. Mostrou que é algo de concreto, muito mais forte do que muitos imaginam. Assim, ao fim de 200 anos, UM GRUPO OLIVENTINO, NÃO SE METENDO NA QUESTÃO POLÍTICA, VEM PROCLAMAR A SUA PERTENÇA ao ESPAÇO LUSÓFONO, e, em termos culturais, vem conseguir a reposição de algumas verdades históricas e culturais, como os nomes originais das ruas. Algo subsistiu no meio dos tempos difíceis, em que quem se proclamava português tinha dificuldades até para conseguir emprego. ISTO MOSTRA QUE HÁ UMA VITALIDADE NA CULTURA PORTUGUESA QUE CONVÉM NÃO ESQUECER...
3- Na sua opinião, como é que pode se resolver esta situação? R: Uma boa resolução poderia ser semelhante à proposta para Gibraltar pelo Governo de Madrid: dupla nacionalidade para os habitantes, consagração de alguns direitos e especificidades, alguma autonomia administrativa, e outras medidas a estudar que beneficiassem os oliventinos, e também Portugal e Espanha.
4- Pode-se fazer um paralelismo histórico entre Gibraltar e Olivença? R: O paralelismo não está na situação jurídica. A Espanha cedeu Gibraltar por Tratado (1713/1714, Tratado de Utrecht), enquanto juridicamente Olivença pertence a Portugal (Congresso de Viena de 1815, com assinatura espanhola em 1817). O paralelismo pode verificar-se só na contradição da argumentação espanhola, que parece querer aplicar regras de Direito Internacional em Gibraltar que nega em Olivença...
5- Acha que os oliventinos gostariam de passar para a tutela Portuguesa? R: Não se pode, em termos de Direito Internacional, aplicar a regra do "tempo". Isto porque, ao fim de 200 anos de destruição sistemática da História e Cultura (incluindo a Língua) em Olivença, não é possível considerar válida uma consulta popular. A Espanha, aliás, não o aceita para Gibraltar (e aqui há um paralelismo). A melhor solução seria uma fase de dupla soberania, com o ensino da História (sobre cuja qual a ignorância é quase total) e a recuperação da Língua entre os oliventinos. Poder-se-ia depois estudar um estatuto administrativo próprio, provisório ou definitivo, que não prejudicasse ninguém. É o que se faz nestes casos, pois sancionar uma vontade resultante duma acção colonizadora de muitos anos seria convidar qualquer grande ou média potência a ocupar total ou parcialmente territórios alheios, a deixar passar o tempo, a destruir as características culturais e históricas de uma região, e a proclamar depois, a vontade do povo. Imagine-se que teriam dado à Indonésia 200 anos para colonizar Timor. A vontade das populações teria mudado, nas a ilegalidade da ocupação continuaria a ser um facto!
OLIVENÇA RECUPERA AS SUAS RUAS
A Câmara Municipal de Olivença começou a recuperar os antigos nomes em português das ruas da localidade. A iniciativa parte da associação cultural Além Guadiana, que há um ano apresentou à Câmara e aos diferentes representantes políticos de Olivença um projeto pormenorizado para a valorização da toponímia oliventina, com unânime aceitação. O projeto contempla a adição dos antigos nomes das ruas aos atuais, mantendo a mesma tipologia e estética nas placas. Assim, resgatam-se as denominações das ruas, dos becos, das calçadas, etc., que configuram o extenso casco histórico encerrado nas muralhas abaluartadas, com um total de 73 localizações. Tudo irá acompanhado de um simbólico ato inaugural e da edição de brochuras turísticas bilingues. A maior parte da toponímia urbana de Olivença foi substituída ou modificada na primeira metade do século XX, embora alguns dos nomes continuem a ser utilizados pela população apesar das alterações, como nos casos da rua da Rala, da rua da Pedra, da Carreira, etc. Os antigos nomes das ruas falam-nos do passado português da “Vila”, como popularmente é conhecida a cidade, desvelando aspetos diversos, amiúde desconhecidos, da sua história. Estes remontam a séculos atrás, muitos deles à Idade Média, aludindo a pessoas ilustres da História, a antigos grémios de artesãos, a santos objeto da devoção popular ou à fisionomia das ruas, entre outros aspetos. A rua das Atafonas, a Calçada Velha, o Terreiro Salgado e o beco de João da Gama” são alguns exemplos. Com esta iniciativa pretende-se, enfim, realçar um interessante componente da rica herança cultural oliventina, a toponímia, contribuindo para testemunhar a história partilhada deste concelho e para a tornar visível em cada recanto intramuros. Os nomes ancestrais dos espaços públicos conformam uma janela que convida a assomar-se e a explorar a apaixonante história de Olivença. Expressados na sua originária língua portuguesa, constituem o testemunho vivo de uma cidade onde se respiram duas culturas e são um veículo que encoraja os mais novos a manter a língua que ainda falam as pessoas mais velhas do município. Para a associação Além Guadiana, trata-se de uma iniciativa com fins didáticos, culturais e turísticos, com a qual se resgata para o presente uma parte do passado oliventino.
Associação Além Guadiana
Antigo Largo de Sto. António, 13
06100 Olivença (Badajoz)
www.alemguadiana.com
alemguadiana@hotmail.com
UMA OPINIÃO (de Carlos Gomes):